
EM 2014 juntos formaremos um mundo mais fraterno e humano...
6º domingo do Tempo Comum- 12 fev- Marcos 1,40-45
05-02-2012 21:00
Muito interessante o modo como o leproso se aproxima de Jesus, segundo a narrativa desse evangelho de São Marcos, ajoelhando-se diante dele. Ás vezes em brincadeira dizemos para alguma pessoa que nos pede algo “mas nem que você peça de joelhos, não vou dar”.
Ajoelhar-se é reconhecer a própria miséria e ao mesmo tempo a superioridade e o poder do outro, é atitude de desespero de quem clama pela realização de algo humanamente impossível.
“Senhor, se queres podes purificar-me” – o desespero do leproso não era a doença em si, que ele sabia não ter cura, mas a conseqüência dela: ser declarado impuro e perder o convívio familiar, social e religioso. Fico imaginando que ele talvez fosse casado e deveria estar com saudades da esposa, do carinho dos filhos, da amizade dos parentes e da comunhão de amizade com os irmãos da comunidade.
A doença não tinha cura, o sacerdote apenas dava o diagnóstico e declarava o leproso impuro, não tinha o poder de curar. Por isso aquele leproso, além da dor física, carregava também o peso de uma dor moral que se tornava um tormento por causa do peso religioso pois a lepra era considerada conseqüência do pecado, um castigo de Deus e por isso a exclusão social, como determina o Livro do Levítico na primeira leitura dessa liturgia.
Jesus compadeceu-se dele - essa expressão é muito significativa, pois compaixão é um sentimento atribuído apenas a Deus na Sagrada Escritura, significa sofrer junto, tomar para si as dores do outro, colocar-se em seu lugar. Quando sentimos dó ou pena, admitimos a condição inferior do outro, somos capazes de dizer ou de pensar “Ah se não fosse eu ter pena, coitada dessa pessoa”. Mas compaixão é gesto do mais puro amor, de quem é santo, sofre junto, caminha junto, chora junto e assume as conseqüências junto.
É precisamente este sentimento divino que leva Jesus a fazer um gesto proibido para um judeu: ele estendeu a mão e tocou no leproso e desta maneira, na rígida visão dos sacerdotes, tornou-se também um impuro, ao mesmo tempo em que manifesta a sua vontade “Sim, eu quero, sê puro”. E imediatamente desapareceu do leproso a doença.
A orientação para apresentar-se ao sacerdote, dá margem a uma dupla interpretação, Jesus poderia estar denunciando a ineficiência do sistema religioso, que além de não curar ainda exclui quem foi contaminado pela lepra. Mas o rigor com que fala ao leproso, recomendando que nada dissesse a ninguém, é interpretado como se Jesus tivesse se arrependido de ter feito a cura e tenta amenizar as conseqüências do seu gesto, para não atrair sobre si a atenção dos que ocupavam o poder religioso.
A narrativa evoca a nossa história, por causa dos nossos pecados estávamos privados da amizade de Deus e da sua comunhão, assim como a lepra não tinha cura, nós também estávamos condenados a ficar longe de Deus para sempre, e homem algum poderia, por suas obras, nos reconciliar com Deus e refazer a comunhão com ele e por isso, o toque de Jesus naquele leproso nos remete à sua encarnação, ele tornou-se um de nós, se fez igual a nós e desceu ao último degrau, assumindo a condição de escravo, para fazer a vontade do Pai, que é de que não haja mais separação entre Deus e os homens, pela obra da salvação, o homem excluído é agora incluído na vida de comunhão com Deus, recebendo a sua graça.
Mas o texto também projeta luzes em nossa caminhada fazendo-nos enxergar em nossa sociedade tantos e tantos leprosos, excluídos da família, da sociedade, do mundo trabalho e até da própria igreja. O milagre foi a reintegração social, religiosa e familiar daquele leproso e esse está bem ao nosso alcance. Basta que em nossa relação com todas as pessoas não falte a compaixão, o amor e a misericórdia.
Quem são esses leprosos de hoje, dos quais queremos sempre distância? Cada um faça a sua lista e que ninguém se surpreenda se ela for muito grande e constar nomes de membros da família e até da sua comunidade.
Diácono José da Cruz
----------------------------------------------------------------
* Acolhendo e curando o leproso Jesus revela um novo rosto de Deus. Um leproso chegou perto de Jesus. Era um excluído, impuro. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele grita: Se queres, podes curar-me! Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta você querer para eu ficar curado!” A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu te acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: Quero! Seja curado! O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocasse num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.
* Reintegrar os excluídos na convivência fraterna. Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver novamente. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico. Jesus obrigou o leproso a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.
* O leproso anuncia o bem que Jesus fez a ele, e Jesus se torna um excluído. Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por que? É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião pública daquele tempo, Jesus, ele mesmo, era agora um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!
—————