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13º Domingo- Dia 26 de junho de 2011

22-06-2011 11:15

13º Domingo do tempo comum

            Com o fim do tempo pascal e celebrado o evento Pentecostes, a Igreja, em sua caminhada litúrgica adentra na segunda parte do Tempo Comum que se inicia na segunda-feira após o Pentecostes e vai até a véspera do primeiro domingo do Advento. O ensinamento que perpassa tal momento na vida de Igreja é que os cristãos são o sinal do Reino de Deus onde a espiritualidade está centrada na vivência do Reino.

            Neste sentido, celebramos o décimo terceiro domingo do tempo comum onde à liturgia nos apresenta na primeira leitura, a mulher reconhece Eliseu como um profeta, comprometendo-se a prover suas necessidades. A generosidade da mulher é recompensada com a promessa do nascimento de um filho. Assim, o profeta revela-se plenamente como homem de Deus, mensageiro da boa notícia. Deus intervém manifestando-se como a fonte da vida a quem procura seguir seu caminho. O salmista canta eternamente a bondade e a fidelidade do Senhor, reveladas na criação e na história do povo. A segunda leitura salienta que pela fé e o batismo nos libertamos da escravidão do pecado para vivermos uma vida nova segundo o Espírito.

            O que os discípulos recebem de Jesus no texto do evangelho deste domingo que esta em  Mateus 10,37-42 não é uma doutrina, mas uma missão, um sentido a dar às suas vidas: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la". Jesus utiliza as relações familiares (pai, mãe, filhos, irmãos) para falar do Reino de Deus, para falar da única e grande família fraterna que se forma em Deus.

            Tanto que noutro lugar, em Mt 12,50, Jesus expressa que sua mãe e seus irmãos são todos aqueles que cumprem a vontade e a justiça de Deus. Portanto, o que Jesus revela aos discípulos não é que devem abandonar ou renunciar à família, pois esta também é parte integrante do Reino de Deus, mas o amor a Jesus é mais exigente, pois implica a amizade e comunhão com ele, com o seu projeto.

            Os discípulos são exortados a uma adesão total a Jesus e seu projeto. Trata-se de um compromisso radical que possibilita encontrar a verdadeira vida na relação com Deus. Percorrendo o caminho da cruz, entregando a vida por amor. Acolher os discípulos missionários não significa apenas oferecer hospitalidade, mas também aceitar suas palavras, a Boa Nova da salvação. Quem recebe os evangelizadores é como se recebesse o próprio Cristo.

            Mas se quiséssemos entender o Evangelho de hoje um pouco melhor colocaríamos o amor a Deus num prato da balança e o amor ao pai e à mãe no outro.  O amor a Deus deveria ser mais, ser maior e abaixaria o prato da balança. Mas não é nada disso. Seria um equivoco pensar assim, porque não podemos colocar em pratos de uma balança a relação com Deus, com Jesus e a relação com os seres humanos, pois são de naturezas diferentes. É como se alguém dissesse: eu gosto mais do azul do que de doce de coco. Um é para ver, outro para saborear.

            O amor de Deus é outra grandeza. Eu não posso dizer agora para um pai que ele deve gostar mais de Jesus do que de uma filha. O que Jesus diz é que precisamos de um amor que estruture o nosso amor. Isso sim! É um amor muito mais profundo, que alimenta os nossos amores humanos. Pode acabar o amor pelos filhos, o amor da esposa por seu esposo, é o que vemos em muitas famílias. Nós precisamos de um amor maior. Não para que amemos mais esse amor maior, mas para que ele faça os nossos amores humanos serem maiores ainda. É isso que Deus quer: que o esposo ame mais ainda a sua esposa, e vice-versa. Que o pai ame mais ainda a sua filha, seu filho. Mas o pai, a filha, o esposo podem, muitas vezes, ficar dilacerados, porque não conseguem relacionar-se bem. Jesus diz que todas essas dificuldades que encontramos em nossos amores humanos podem ser melhoradas, se encontrarmos um amor maior. E aí está o amor de Deus. Só assim seremos capazes de continuar amando aquelas pessoas mais próximas de nós.

            Muitas vezes dizemos que o amor na família é mais fácil. Pelo contrário, é o mais difícil. É por isso que Jesus diz que é importante que amemos a Deus, para que o nosso amor dentro da família seja forte, seja puro, seja grandioso.

            E agora vem a segunda passagem do Evangelho, que também parece algo meio confuso. Jesus diz que a gente só ganha, perdendo. O que Ele quis dizer com isso? Quando um esposo quer ganhar muitas mulheres acaba perdendo até a própria. Está aí a prova. Para ganhar, para vivermos felizes, para decidirmos, temos que renunciar. Cada decisão que tomo significa uma renúncia enorme. Por isso, os jovens, quando se aproxima o vestibular, ficam angustiados. Se escolherem engenharia, não poderão ser advogados. E assim por diante, terão sempre que deixar outra coisa. Toda escolha, se for realmente assumida, traz junto uma renúncia. Eu só posso ganhar, sabendo que qualquer decisão humana que tomar implicará numa renúncia enorme.

            Quando eu li que Bill Gates, o acionista majoritário da Microsoft tem uma fortuna de noventa milhões de dólares, pensei que, com isso, ele perde muitas coisas. Perde as pequenas ternuras da vida, a liberdade, para poder abraçar tantos dólares. E desses dólares, nenhum centavo sequer vai para o caixão. Podem comprar um caixão de ouro, mas o defunto não aproveita nada. Alguém que pensa que, com noventa milhões de dólares, tem o mundo, não tem nada. Não pode brincar com uma criança na rua, porque tem medo de ser seqüestrado. Se pensarmos que, abarcando o mundo, teremos felicidade, estamos totalmente enganados.

            A felicidade é feita de pequenas alegrias. A alegria do olhar de uma criança vale muito mais que infinitas outras alegrias...

            Alegria verdadeira é um casal que chega a bodas de ouro. Essa é uma alegria incomparável! Pais que entendem seus filhos, mães carregando-os no colo. Não há alegria maior. Nada pode se comparar com isso. E Jesus diz, com razão, que perdemos muitas coisas. O homem e a mulher, quando têm um filho, perdem muita coisa. Perdem noites de sono, perdem a tranqüilidade, ficam preocupados. Mas nada lhes tira a gigantesca alegria de construir uma vida para o futuro. Isso é mais do que todas as perdas e renúncias.

            Seguir Jesus é ser colaborador na sua missão, de sentirmos realizados como pessoas e cristãos por termos procurado colaborar na construção do Reino de Deus com todas as nossas limitações. Partilhar nossas alegrias e nossos sofrimentos.

Robespierre Ferrazza

Ministro da Palavra e da Eucaristia

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